Políticas energéticas mal planejadas e sob a influência de grupos
econômicos nacionais e estrangeiros. Enorme quantidade de energia desperdiçada
nas linhas de transmissão. Necessidade de superar noções de usinas
hidrelétricas como fonte de energia limpa, barata e renovável. Gigantesco
potencial de energia eólica e solar menosprezado.
Essas são as principais conclusões de um
estudo sobre o setor elétrico sob o prisma da sustentabilidade lançado ontem em
São Paulo.
Elaborado por um coletivo de ONGs e membros
da academia brasileira, os artigos trazem uma visão crítica sobre a política
energética brasileira, amplamente baseada em grandes usinas hidrelétricas, e
trazem propostas sobre alternativas para garantir o futuro energético do país.
"O estudo indica que é plenamente
possível para o Brasil alcançar a segurança energética com uma vigorosa
política de eficiência e de expansão da oferta a partir das fontes alternativas
como a eólica, a biomassa (os resíduos agrícolas, particularmente o bagaço da
cana-de-açúcar), a energia solar, e mesmo as pequenas centrais hidrelétricas,
se os projetos considerarem de forma adequada as populações ribeirinhas
atingidas", diz Célio Bermann, professor do Instituto de Energia Elétrica
da USP e autor de um dos artigos.
Cerca de 77% da matriz elétrica brasileira
é de fonte hidrelétrica e o governo planeja a construção de dezenas de grandes
e pequenas hidrelétricas nos próximos anos na região amazônica.
Segundo o estudo, é enganosa a ideia que a
energia hidrelétrica é uma fonte de energia limpa. No complexo Belo
Monte/Babaquara, no rio Xingu, seriam necessários até 41 anos para se chegar a
um saldo positivo em termos de emissões de gases de efeito estufa. Devido à
flutuação no nível da água do rio, é esperada uma variação de 23 m no
reservatório de Babaquara a cada ano. Quando atingir o nível mínimo, a
vegetação herbácea, de fácil decomposição, cresceria rapidamente no
reservatório. Quando o nível de água subisse, a vegetação decomposta produziria
grandes quantidades de metano.
Um dos artigos do estudo trata das perdas
de energia no sistema elétrico brasileiro. O Brasil atualmente desperdiça 15,4%
de sua oferta total de energia.
Em comparação, o Chile tem perdas totais de
5,6%, o Peru de 9,3% e a Argentina de 9,9%. Segundo relatório do TCU, tal
desperdício tem impacto direto na tarifa ao consumidor.
O ministério de Minas e Energia, por meio
de sua assessoria, diz que as perdas de energia elétrica são elevadas devido a
alta participação da energia hidráulica na matriz elétrica, às dimensões
continentais do país e ao aumento da geração longe dos centros consumidores.
Isso "impõe ao Brasil condições de distribuição de energia elétrica
complexas e distintas dos demais países"
Fonte:Folha de S. Paulo
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