domingo, 3 de março de 2013

Em 20 anos, Brasil poderá gerar 280 MW de energia do lixo


Potencial de produção de energia vinda dos aterros pode dobrar em 20 anos, se a lei de resíduos sólidos for cumprida. Acima, Lixão de Gramacho, antes de ser desativado. Foto: Victor Moriyama.

Rio de Janeiro -- Em vinte anos, o Brasil terá capacidade para gerar 282 megawatts de energia elétrica a partir do biogás nos aterros sanitários, o suficiente para abastecer uma população de cerca de 1,5 milhão de pessoas. Esse potencial é uma projeção baseada nos dados atuais.

A previsão do potencial energético é ainda maior se levada em conta a aplicação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que estabelece metas para começar a valer em 2014 – como a destinação correta de rejeitos em aterros sanitários, o aproveitamento de resíduos, a coleta seletiva e o fim de lixões em todos os municípios brasileiros. Segundo estudo realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o potencial energético do biogás pode chegar a 500 megawatts em 2039, capaz de abastecer 3,2 milhões de habitantes, o número de habitantes do estado do Rio Grande do Norte.

Segundo explica o diretor executivo da Abrelpe, Carlos Silva Filho, no cenário atual, o país tem um potencial de gerar 254  megawatts a partir do biogás. Em vinte anos, este potencial energético supera os 280 megawatts, e só na região Sudeste, a mais desenvolvida no país, poderá produzir 170 megawatts de energia a partir do biogás vindo dos aterros.

“O Brasil deve caminhar de maneira positiva para chegar a uma destinação adequada de resíduos sólidos e que sejam devidamente tratados nos aterros sanitários. Se aplicarmos o que diz o PNRS, praticamente dobraremos o nosso potencial energético a partir dos resíduos”, argumentou Silva Filho.

O diretor executivo da associação que representa as empresas que atuam nos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos defende ainda a inclusão da geração de energia do biogás na matriz energética brasileira.

“Esta é uma fonte de energia limpa e renovável que pode contribuir para o mix energético no Brasil, ou seja, toda a energia gerada pelo lixo”, destacou Silva Filho.

Potencial subutilizado
A Abrelpe lançou, nesta quinta-feira, dia 28 de fevereiro, o Atlas Brasileiro de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e Potencial Energético na Destinação de Resíduos Sólidos.

No entanto, apesar do atual potencial de geração elétrica do biogás ser mais de 250 megawatts no país, existem apenas dois projetos no Brasil que de fato põem em prática a geração elétrica a partir do biogás. Apenas os aterros sanitários Bandeirantes e São João, no estado de São Paulo, produzem eletricidade do biogás. Os dois juntos tem capacidade para 1,2 milhão de megawatts/hora.

“O objetivo do Atlas é incentivar o investidor a implantar a geração de energia e incentivar os órgãos de governo a gerar a energia a partir do lixo”, destacou Silva Filho.

No entanto, o investimento para implantar a infraestrutura em plantas de captação de biogás e transformação em energia ainda é expressivo. Para projetos de geração de 3  megawatts, o que seria uma planta de médio porte, o investimento é da ordem de 5 milhões de dólares e a tecnologia é internacional.

“O coração da planta é a microturbina que transforma o gás em energia, e é de tecnologia americana, mas 80% da planta de gás é produzida no Brasil”, afirmou o representante da Abrelpe.

Recém-inaugurado, o aterro sanitário de Seropédica, no estado do Rio de Janeiro e que pretende ser um modelo de inovação em matéria de disposição final de resíduos sólidos no Brasil, terá uma vida útil média de 30 anos e potência de 25 megawatts. O investimento na implantação da infraestrutura para captar o biogás e transformá-lo em eletricidade foi de R$ 44 milhões.

Brasil tem potencial para mitigar 890 milhões/ton CO2


Carlos Silva Filho - Diretor executivo ABRELPE. Foto: Divulgação.
Segundo o estudo inédito lançado nesta quinta-feira, a Abrelpe destaca que só na destinação de resíduos, o Brasil tem potencial para reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) em 892 milhões de toneladas de CO2 equivalentes até 2039, o que corresponderia a quase 30 milhões de CO2 por ano.

“O setor de resíduos sólidos tem um potencial muito grande para contribuir para a mitigação dos efeitos para as mudanças climáticas. Quanto mais populoso e desenvolvido o país, mais resíduos ele gera. Ou seja, quanto maior o PIB per capita de um país, maior a geração per capita de resíduos”, ressaltou Silva Filho.

Apenas na região Sudeste, o potencial de mitigação até 2039 é de 537 milhões de toneladas de CO2, e, em segundo lugar, o Nordeste com 156 milhões de toneladas de CO2.

Em 2012, segundo a Abrelpe, o potencial total de redução de GEE foi de 54 milhões de toneladas de CO2. “A questão de resíduos sólidos deixa de ser algo apenas ligado ao meio ambiente, ela passa a ser uma questão de sobrevivência. O processo mundial de urbanização nunca apresentou sinais de regressão no mundo, pois a mudança da população do campo para as cidades é um processo em ritmo crescente”, enfatizou.

O lixo no mundo
Em 2050, a perspectiva é que dois terços da população mundial viva em cidades, ou seja, cerca de 6 bilhões de pessoas em centros urbanos, o que significa que serão 4 bilhões de toneladas de resíduos urbanos. Um aumento de quase 4 vezes em quase 40 anos. Em 2011, foram gerados 1,3 bilhão de toneladas resíduos sólidos urbanos.

Segundo o Banco Mundial, o Brasil é o país que tem o maior índice de urbanização com 86% da nossa população nas cidades. A título de comparação, o Brasil produziu, em 2011, 62 milhões de toneladas de resíduos sólidos, e destes, 55, 5 milhões de toneladas de lixo foram de fato coletados. Só na região Sudeste, foram 30,3 milhões de toneladas.

O Brasil gerou, naquele ano, 1,223kg de lixo por dia per capita. Menos de 60% do lixo no Brasil foi destinado, em 2011, para aterros sanitários, e pouco mais de 40% foi levado a aterros controlados ou lixões. O dado mais alarmante: apenas 4% do lixo foi reciclado em 2011.

Segundo levantamento da Abrelpe, 2.358 municípios brasileiros não têm nenhuma iniciativa de coleta seletiva e 1.607 de municípios destinaram seus resíduos em lixões.

“Entre 1990 e 2000, o lixo deixou de ser visto como algo isolado e começou a se pensar na integração, no melhor aproveitamento dos materiais e no aproveitamento do gás gerado pela decomposição dos resíduos sólidos. De 2000 até hoje, estabeleceram-se metas de como gerar menos resíduos”, relembrou Silva Filho.

PNRS de 2010
Criada em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (12.305/ 2010) prevê a disposição final de resíduos e rejeitos em locais adequados. A lei traz a obrigação de aplicar o princípio da hierarquia na gestão, explica Silva Filho, criando uma ordem de prioridade de ação no gerenciamento de resíduos: redução de geração de lixo, reuso, reciclagem, tratamento, recuperação e a disposição no solo “que é a última alternativa quando não há outra possibilidade de outros usos”.

Para a Abrelpe, a lei traz a possibilidade do desenvolvimento de novos setores e negócios que utilizem os resíduos sólidos como matéria-prima, a exemplo do biogás para geração de eletricidade.

O prazo final é agosto de 2014 em que os municípios brasileiros terão que dar uma destinação adequada a 100% dos seus resíduos sólidos e, caso não cumpram, as prefeituras serão enquadradas no crime ambiental com multas que podem chegar a até R$ 50 milhões ou 5 anos de prisão.

“Nós teremos uma revolução no sistema de gestão de resíduos no Brasil. Agosto de 2014 será um divisor de águas. O prazo da lei é curto, mas os administradores municipais devem encontrar soluções conjuntas. O aterro sanitário não é a única solução, hoje é a mais disseminada no Brasil, mas temos também a compostagem para municípios que tem, por exemplo, 70% de seu lixo de matéria-orgânica. É preciso abrir a cabeça e pensar numa série das alternativas”, concluiu.


fonte: oeco.com.br

Cientistas defendem legalização de comércio de chifre de rinocerontes


Medida seria tomada para proteger o animal de caçadores ilegais.
Produto vale mais que ouro no mercado negro, dizem especialistas.

Rinoceronte com o chifre raspado (Foto: Geoff York/AAAS)Rinoceronte com o chifre raspado (Foto: Geoff York/AAAS)

Uma equipe internacional de cientistas publicou, nesta quinta-feira (28), um artigo que defende a legalização do comércio de chifre de rinocerontes. A medida foi sugerida como uma nova estratégia para frear a caça exagerada dos animais – que representa uma ameaça à espécie.


O artigo publicado pela revista “Science” não é um estudo científico, mas sim uma opinião emitida por especialistas em políticas ambientais, sediados na França, na Austrália e no Zimbábue, baseados no atual contexto e em dados disponíveis na literatura científica.A caça ilegal de rinocerontes é um problema ambiental crescente. Ano após ano, cada vez mais rinocerontes são abatidos e seus chifres são contrabandeados. Os crimes ocorrem na África, mas o principal mercado consumidor é a Ásia – na China, existe uma crença de que o chifre do animal tenha propriedades medicinais.


Segundo eles, há hoje cerca de 5 mil rinocerontes negros e 20 mil rinocerontes brancos no mundo, a grande maioria na região sul da África. Só na África do Sul, o número de animais mortos mais que dobrou por ano, nos últimos cinco anos.

Estratégias anteriores de combate, como a fiscalização contra a caça ilegal e campanhas para conscientizar o consumidor dos danos ambientais causados pelo produto não funcionaram até o momento e deveriam ser abandonadas, na opinião dos especialistas.

Em outro argumento na defesa da legalização, os autores citam o caso dos crocodilos. O comércio ilegal do couro dos répteis também representava uma ameaça de extinção. Depois da legalização, animais passaram a ser criados com este fim, o que, segundo eles, reduziu a caça e impediu a extinção.

No caso dos rinocerontes, a criação de animais para a retirada dos chifres poderia servir ainda mais como proteção por uma questão prática. Se o animal já estiver domesticado, não é preciso abatê-lo para retirar o chifre – ele pode ser apenas serrado e crescerá de volta. Em média, o chifre de um rinoceronte cresce 900 gramas por ano.

Em 2012 um quilograma de chifre de rinoceronte custava cerca de R$ 130 mil no mercado negro. “Chifre de rinoceronte agora vale mais, por unidade de peso, que ouro, diamante ou cocaína”, afirma o artigo.


fonte: g1.globo.com

sexta-feira, 1 de março de 2013

Aquecimento no fim da Era do Gelo já tinha relação com CO2, diz estudo


Dióxido de carbono encontrado em gelo antártico tem mais de 10 mil anos.
Para analistas, isso indica que mudança climática é, em parte, natural.


Os índices de dióxido de carbono acompanharam o aquecimento do clima ao final da última Era do Gelo, revela um estudo de cientistas franceses publicado esta quinta-feira (28) na revista "Science", que soluciona um enigma que intrigava os estudiosos.


A questão veio à tona com bolhas de ar atmosférico, presas em testemunhos de gelo naAntártica, que remontam ao último degelo, terminado cerca de 10 mil anos atrás.


Cristais de gelo analisados com luz polarizada (Foto: Frédéric Parrenin/AAAS)

Estas minúsculas bolhas foram estudadas de perto, pois contêm dióxido de carbono (CO2), o principal gás de efeito estufa causador do aquecimento global.

Segundo o marco convencional, quanto mais alta ou mais baixa a concentração de CO2, maior ou menor é a temperatura atmosférica. Mas, estranhamente, as bolhas de CO2 não correspondiam aos níveis de aquecimento indicados na neve dos arredores, que data da mesma época.


Os céticos argumentam que isto demonstraria que os índices de dióxido de carbono subiram após o aquecimento da atmosfera terrestre.

Isto significaria que o aquecimento global atual poderia derivar, ao menos em parte, de meios naturais, e não das emissões de carbono decorrentes da queima de combustíveis fósseis, como sustenta o consenso científico.

Uma equipe chefiada pelo glaciologista francês Frederic Parrenin analisou o gelo de cinco expedições de perfuração profunda na Antártica.

Ao analisar a composição isotópica do gás nitrogênio nestas amostras, os cientistas disseram ter conseguido filtrar os indícios confusos dos dados.

No último degelo, a temperatura aumentou 19 graus Celsius, enquanto os níveis de CO2 atmosférico subiram 100 partes por milhão, afirmaram.

A discrepância se deveu ao processo físico pelo qual as bolhas de CO2 se formam em camadas sucessivas de neve.

"As bolhas de gás são sempre mais recentes do que o gelo que as cerca", reportou o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS) francês, em um comunicado.

Os cientistas disseram que o estudo não examinou as razões para a elevação da temperatura que acompanham o degelo atual.

Há vários fatores naturais para o aquecimento global, incluindo erupções vulcânicas, bem como modificações do calor emitido pelo sol e pequenas mudanças no eixo e na órbita da Terra.


fonte: g1.globo.com

Pesquisa diz que animais silvestres são mais eficientes na polinização


Abelhas nativas, morcegos e outros animais podem ajudar na agricultura.
Pesquisa foi publicada na edição da revista 'Science' desta semana.

Um estudo realizado por mais de 50 cientistas de diversos países, publicado pela renomada revista "Science", afirma que animais silvestres são, em várias situações, polinizadores mais eficientes do que as abelhas comuns (Apis mellifera), muito utilizadas para polinizar culturas agrícolas.

Morcegos, beija-flores, besouros e abelhas de espécies diversas, não só da espécie Apis mellifera, são capazes de polinizar vários tipos de plantas. No caso de culturas agrícolas, a polinização por animais silvestres fez aumentar a frutificação em até duas vezes, ressalta Juliana Hipólito, pesquisadora de ecologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e uma das autoras do estudo, publicado nesta quinta-feira (28).


Abelhas de diversas espécies encontradas em vários locais do mundo polinizam flores (Foto: Reprodução/'Science')
Abelhas de diferentes espécies de vários locais do mundo polinizam flores (Foto: Reprodução/'Science')



"Isso está relacionado à qualidade da deposição do pólen. Os polinizadores nativos demonstraram maior eficiência nesse quesito em certas culturas agrícolas", diz a pesquisadora. Em todos os cultivos em que animais nativos fizeram a polinização, independente da presença da Apis mellifera, houve ganho na reprodução, afirma ela.

Sem competição


Juliana aponta que, no início do estudo, os pesquisadores imaginaram que haveria competição entre as abelhas comuns e animais polinizadores nativos, caso ambos convivessem na mesma área. A situação praticamente não ocorreu.

"Basicamente não há relações fortes de competição como a gente achava que haveria. Constatamos que polinizadores nativos, como vespas, podem ajudar na agricultura", diz a pesquisadora. "A Apis mellifera pode ter papel complementar ao dos animais silvestres [na polinização]."

Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e também autor do estudo, Breno Magalhães Freitas informa que foram estudadas cerca de 600 áreas agrícolas (como fazendas) em todos os continentes do mundo, exceto na Antártica.

"A prática atual da agricultura é não se preocupar com os polinizadores silvestres", afirma. Segundo ele, quando os animais nativos são eliminados de uma área agrícola, "o produtor tende a pensar: 'eu posso colocar colmeias de abelhas para polinizar'", mas isso está longe de aumentar a eficiência na agricultura.

"O trabalho mostra que as abelhas comuns polinizam, mas não são muito eficientes. Os polinizadores [abelhas e outros animais] não são excludentes", pondera o pesquisador.

A maioria dos animais polinizadores são abelhas de diversas espécies - elas representam de 70% a 80% dos seres com esta função, segundo Freitas. "Não quer dizer que uma espécie é melhor do que a outra. Elas são complementares."


Abelha pousada em flor, em Jerusalém; espécies silvestres se 'especializam' em polinizar certas plantas (Foto: Baaz Ratner/Reuters)

Especialistas


Os animais silvestres tendem a ser mais eficientes na polinização porque são "especialistas" em certos tipos de planta, afirma o pesquisador. "Eles atingem um grupo menor, e com isso conseguem ser eficientes naquela planta que visitam", ressalta.

Já as abelhas comuns, também chamadas de abelhas europeias, polinizam vários tipos de plantas. "Elas não são especialistas, fazem uma polinização básica, mais geral", diz Freitas.

Exemplos de animais polinizadores nativos do Brasil são abelhas mamangavas, essenciais para a reprodução do maracujá. Já o caju pode ser polinizado tanto por abelhas centris, um tipo natívo, quanto pela Apis mellifera. "Elas se complementam", afirma o professor da UFC.

Orientações para os produtores rurais são evitar o desmatamento ao redor de suas propriedades, para garantir o habitat natural dos animais silvestres que podem ser polinizadores. Também é importante usar menos agrotóxicos, afirma o professor.

fonte: g1.globo.com