sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mata tropical tem 18 mil espécies de artrópodes por hectare

Um esforço sem precedentes, reunindo mais de uma centena de cientistas, esquadrinhou uma floresta tropical do Panamá de alto a baixo na tentativa de responder uma pergunta aparentemente simples: quantas espécies de artrópodes (o grupo dos insetos e aranhas, entre outros bichos) existem ali?

O resultado -nada menos que 18 mil tipos de artrópodes em apenas meio hectare de mata- é a estimativa mais precisa já obtida a respeito da diversidade desses seres, que correspondem a mais de 80% dos animais da Terra.

"Até onde sabemos, conseguimos amostrar todos os habitats, do solo da floresta ao alto das árvores, e todos os principais grupos de artrópodes", diz o brasileiro Sérvio Pontes Ribeiro, da Universidade Federal de Ouro Preto, coautor do estudo na edição de hoje da revista "Science".


Cientistas em guindaste recolhem amostras de insetos no alto das arvores em floresta do Panama
Cientistas em guindaste recolhem amostras de insetos no alto das arvores em floresta do Panama

Ribeiro é especialista na diversidade de bichos no chamado dossel superior, a área mais alta da floresta.

Paradoxalmente, diz ele, o ambiente nessa região lembra o do cerrado: muita luz solar, pouca umidade e nutrientes mais escassos.

As condições especiais favoreceram a evolução de insetos que põem seus ovos dentro das folhas e formam uma espécie de tumor vegetal nelas -um abrigo mais úmido e nutritivo para elas.

Mapeando esse e outros ambientes com vários tipos de armadilhas e redes, os cientistas estimam que, em toda a floresta de San Lorenzo, com seus 6.000 hectares, há cerca de 25 mil espécies.

Curiosamente, um único hectare é suficiente para abrigar dois terços desse total.

"Essa é a grande mudança trazida pelo nosso estudo", afirma Ribeiro.

"Achava-se que a maioria das espécies de artrópodes existia em espaços muito pequenos. O que nós estamos vendo é que elas ocorrem em áreas amplas e provavelmente precisam de territórios grandes."

A equipe está replicando a metodologia em outros lugares, como a Austrália e Vanuatu, na Polinésia.

Com mais dados, a expectativa é que seja possível ter uma ideia mais clara sobre outro número misterioso: quantas espécies, no total, existem na Terra toda.


Fonte: Folha de S. Paulo

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